“Não educas quando impõe a uniformidade que doutrina, mas quando respeita a originalidade que faz a diferença”.
Fotos:Érica Portela
Érica Portela Pinto
Para que exercitamos nas escolas o processo democrático? Ele se resume à escola de representantes que falam e agem por seus representados sem ouvi-los e/ou conhecê-los? De que identidade está se tratando?
Primariamente, a identificação de uma instituição/empresa faz-se mediante um uniforme (uma forma de representação). A unificação torna-se identidade. Cada escola cria seu uniforme, elegendo uma cor, um símbolo que o identifica em qualquer lugar. Embora vivamos num país de letrados, ainda há muitos que não sabem ler; nesses casos, a identificação faz-se pela cor e/ou símbolo. Linguagem que favorece a comunicação de/das massas.
Por que o choque?
O CPMLFB, criado em 1971, já fazia parte da tribo POLIVALENTE – escola fundada para o ensino técnico, com a mesma estrutura física e ideais que se transformaram com o passar dos tempos mediante às necessidades emanadas da sociedade e do pensamento filosófico, político e social das épocas. Antes uma simples camisa branca de percal com as iniciais da U.E. = EP dentro de um círculo no lado esquerdo. Em 1986, passou a ser Colégio Polivalente, e sua identificação era uma camisa de malha branca com duas listras azuis que encontravam o círculo com as iniciais (agora) CP, e frisos vermelhos na gola e mangas. Em 1998, novamente a U.E. sofre alteração de seu fardamento por mudança do nome. A identidade seria criada pela clientela num processo de seleção embasada na criatividade e gestão democrática. Cansados da camisa branca, que no meio do ano estaria amarelada, os estudantes elegeram a cor cinza chumbo com um escudo que representasse a polivalência existente na unidade. Orgulho identitário em alta: Somos do POLIVALENTE. Após alguns anos, uma escola conterrânea copiou a cor do fardamento. Despesas não devem ser criadas todo dia; logo, dez anos passados, a clientela solicitou mudança de fardamento e participaram da criação de sua identidade. Em um processo democrático sério, em três etapas, num exercício claro e real de cidadania, os estudantes elegeram uma camisa azul céu com seu escudo no lado esquerdo, reafirmando ser Colégio Polivalente Monsenhor Luiz Ferreira de Brito. Março de 2011, a Unidade Escolar recebe um kit escolar contendo camisas e mochila que não se identifica com sua clientela: jovens/adultos entre 14 e 53 anos, com peso e estatura diferentes, cujas camisas não atendem seu perfil. Este fato causou um frisson na escola. Todos queriam saber o porquê daquele kit.
“A chegada de um novo uniforme na escola, sem aviso prévio, é, no mínimo, um desrespeito a nós, alunos.
Como representante dos alunos no Colegiado, fui incumbido de passar a notícia para os outros. No turno matutino são 16 turmas e em todas as salas que passei, só uma pessoa (no sentido literal) mostrou-se satisfeita com a decisão do governo, os outros não gostaram nem um pouco da ideia. Pagamos em média R$ 23,00 numa farda e, depois de alguns dias, ela é substituída. Fomos nós que criamos e escolhemos nossa farda e agora teremos que usar uma criada pelo governo¸ diziam. Onde está a democracia nisso? (Levi, 3º C, matutino, representante dos alunos no Colegiado Escolar).
“Recebemos um kit do estado com mochila e camisa escolar. Parando pra pensar... Será que não tem outras coisas mais importantes nas escolas estaduais para eles se preocuparem, como por exemplo: falta de professores, reformas, ventiladores etc.? (Caroline, 3º C, matutino)
“Qual a verdadeira necessidade de um novo fardamento quando a identidade do Colégio é omitida?” (Viviane, 3º D, matutino)
(Desenho de Rodolfo Muniz, 3º C (Matutino)
“Só nos restou decidir onde colocar a identificação da escola?” (Rodolfo Muniz, 3º C, matutino)
“Um grupo de pessoas não pode resolver um problema do outro grupo sem saber sua opinião ou qual a melhor forma de atender as suas necessidades. Por isso, tem que haver comunicação entre ambas as partes e as suas opiniões tem que ser expostas. Não podemos deixar como ponto final algo que não foi proposto ao público principal.” (Laiana, 3º D, matutino)
“Nós vivemos em um país que se diz democrático e não ditador. Para um governo dizer que tipo de uniforme uma escola estadual deve usar, será que temos mesmo o direito de escolha? Provavelmente não, pois já temos nosso uniforme padrão, que foi escolha nossa. Não devemos usar um uniforme padrão, escolhido por pessoas que não nos conhece e que querem tirar nossos direitos. Para isso, este, ou seja, o nosso governo estadual deveria consultar os dirigentes das escolas para ver se entraria em consenso ou não. Mas somos as peças da ditadura e não temos o direito de falar dos nossos direitos. Vamos ver se temos palavras neste país em que os políticos fazem o que querem com nós cidadãos.” (Vanessa, 3º C, matutino)
“...nós, alunos, fomos tratados como marionetes do governo que, em qualquer circunstância, podemos ser manuseados por eles.” (Alan, 3º C, matutino)
“O uso do uniforme padronizado imposto pelo Governo do Estado da Bahia nada mais é do que omitir a identidade da nossa escola, além do que não há necessidade de trocar o uniforme, pois ele foi escolhido de forma democrática e aprovado pela maioria das pessoas.” (Jéssica, 3º D, matutino)
“O dinheiro gasto com esse kit deveria ser investido em outras coisas necessárias”. (Thayana, 3º D, matutino)
“É necessário usar essa camisa?” (Laíra, 3º D, matutino)
“Afinal, qual é a real finalidade do Governo da Bahia em relação à troca das fardas? Será que existe um objetivo? Será que de alguma forma isso contribuirá para o maior pedido de todos: A melhora da educação? (Camila, 3º D, matutino)
Ansiamos por respostas.
A diversidade tão peculiar do Brasil/da Bahia perde sua função com a unificação identitária da escola pública estadual. O orgulho de estudar numa escola pública não se apresenta na uniformização da camisa ou na banalização do Selo Estadual. Somos baianos nas nossas ações e na capacidade de criar e colorir. Característica peculiar da Bahia, Terra de todos nós, onde a Educação é para todos.
Quebrar as “algemas” e “amarras” é dever e direito de todos.